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Tipologia

Tipologia

 

O Dr. Patrick Fairbaim começa o seu valioso tratado sobre os tipos com a seguinte afirmação: “A tipologia das Escrituras tem sido um dos departamentos da ciência teológica mais negligenciado”.

Esta declaração é significativa não somente pelo reconhecimento de uma perda inestimável para a Igreja, mas também pelo fato de que a tipologia recebe deste digno teólogo o devido lugar na ciência da Teologia.

O Dr. Fairbaim não assevera que não se dê atenção alguma à tipologia nos tempos passados. Ao contrário, ele continua a mostrar que dos dias de Orígenes até o tempo presente houve os que enfatizaram este tema, e que alguns o enfatizaram além da razão.

A argumentação é que a teologia, como ciência, negligenciou este grande campo da revelação. A tipologia, assim como a profecia, freqüentemente tem sofrido mais da parte dos seus amigos do que da parte dos seus inimigos.

O fato de que extremistas têm falhado em distinguir entre o que é tipológico e o que é meramente alegórico, analógico, paralelo, uma boa ilustração, uma semelhança, pode ter desviado os teólogos conservadores deste campo.

Quando a verdade é torturada pelos inovadores e extremistas, cai sobre a erudição conservadora a obrigação aumentada de declará-la em suas proporções corretas.

E óbvio que negligenciar a verdade é um erro maior do que enfatizá-la demasiadamente ou afirmá-la erroneamente; e a tipologia, embora usada indevidamente por alguns, não obstante está evidente por sua ausência nas obras de Teologia.

Que a tipologia é negligenciada está evidente do fato de que das mais de vinte obras de Teologia que foram examinadas apenas uma coloca este assunto no seu índice e este autor fez apenas uma ligeira referência a ele em nota de rodapé.

Um tipo é uma antevisão divinamente proposta que ilustra o seu antítipo. Estas duas partes de um tema estão relacionadas uma à outra pelo fato de que a mesma verdade ou princípio está incorporado em cada uma delas.

Não é prerrogativa do tipo estabelecer a verdade de uma doutrina; antes, ele intensifica a força da verdade demonstrada no antítipo. Por outro lado, o antítipo serve para elevar o tipo e retirá-lo do seu lugar comum para o que é inexaurível e investi-lo com riquezas e tesouros até aqui não revelados.

O tipo do cordeiro pascal inunda a graça redentora de Cristo com riqueza e significado, enquanto que a redenção em si mesma investe o tipo do cordeiro pascal com toda a sua importância maravilhosa.

Conquanto seja verdade que o tipo não é a realidade, como o é o antítipo, os elementos encontrados no tipo devem, no essencial, ser observados no antítipo.

Assim o tipo pode, como freqüentemente acontece, especificamente guiar no entendimento e na estrutura correta do antítipo. O tipo é tanto obra de Deus como o antítipo.

Através do reconhecimento da relação entre o tipo e o antítipo, igual a profecia em seu cumprimento, a continuidade sobrenatural e a inspiração plenária de toda Bíblia é estabelecida.

O campo tanto da tipologia como da profecia é vasto, e possui mais de uma centena de tipos legítimos, metade dos quais diz respeito somente a Jesus Cristo, e há inclusive um campo maior, que é o da profecia, onde existe um acréscimo de trezentas predições detalhadas a respeito de Cristo que foram cumpridas no seu primeiro advento.

Há três fatores principais que servem para mostrar a unidade entre os dois testamentos: tipo e antítipo, profecia e seu cumprimento, e continuidade no progresso da narrativa e da doutrina.

Estes fatores, como fios tecidos que passam de um Testamento para outro, e amarram-nos numa só peça, mas servem para traçar um desenho que, por seu caráter maravilhoso, glorifica Aquele que o desenha.

As duas palavras gregas "τύπος" e "υπόδειγμα" servem no Novo Testamento para expressar o pensamento do que é típico.

"Τύπος" significa urna estampa que pode servir como um molde ou padrão, e que é típica no Antigo Testamento como um molde ou padrão do que é antitípico no Novo Testamento.

A raiz "τύπος" é traduzida por cinco palavras em nossas versões portuguesas (exemplos em 1 Co 10.11; Fp 3.17; 1 Ts 1.7; 2 Ts 3.9; 1 Pe 5.3; "padrão" em 1 Tm 4.12; Tt 2.7; ‘figura’ em Hb 8.5; At 7.43; Rm 5.14; e "sinal dos cravos" em João 20.25).

"Δείγμα" significa “espécime” ou “exemplo”; quando combinado com "ύπό" indica o que é mostrado claramente diante dos olhos dos homens.

'Υπόδειγμα" é traduzido por très palavras em nossa língua (exemplo em Jo 13.15; Hb 4.11; 8.5; "modelo" em Hb 8.11; Tg 5.10; e "figuras" em Hb 9.23).

Os tipos são geralmente usados a respeito de pessoas (Rm 5.14; cf. Adão, Melquisedeque, Abraão, Sara, Ismael, Isaque, Moisés, Josué, Davi, Salomão etc.); dos eventos (1 Co 10.11; cf. a preservação de Noé e seus filhos na arca, redenção do Egito, o memorial da Páscoa, o êxodo, a passagem pelo mar Vermelho, a doação do maná, a água retirada da rocha, a serpente erguida, e todos os sacrifícios); de uma coisa (Hb 10.20; cf. o tabernáculo, os vasos, o cordeiro, o Jordão, uma cidade, uma nação); de uma instituição (Hb 9.11; cf. o sábado, o sacrifício, o sacerdócio, o reino); de um cerimonial (1 Co 5.7; cf. todas as indicações do Antigo Testamento para o culto).

E impossível neste espaço listar todos os tipos reconhecidos que são encontrados no Antigo Testamento. Um tipo verdadeiro é uma profecia de seu antítipo e, assim designado por Deus, nào deve ser qualificado com muita especulação humana, mas como uma parte vital da inspiração em si mesma.

Naturalmente, Cristo é o tipo mais eminente visto que o objeto supremo de ambos os testamentos é “o testemunho de Jesus”. Em resposta à pergunta sobre como um tipo pode ser distinto da alegoria ou da analogia, algumas regras foram adiantadas.

Entre estas está declarado que nada deve ser julgado típico que não possa ser sustentado como tal no Novo Testamento.

Esta afirmação é sujeita a duas críticas: (a) à luz de 1 Coríntios 10.11, não há definição para os limites das palavras “estas coisas”; todavia, qualquer coisa que esteja incluída é dito ser típica, (b) Há muitos tipos facilmente reconhecidos que não são diretamente sancionados como tal por qualquer passagem específica do Novo Testamento.

Como o problema de aplicação primária e secundária da verdade, o reconhecimento de um tipo deve ser deixado, em qualquer caso, para o discernimento do julgamento orientado pelo Espírito Santo.

É prerrogativa da ciência da Teologia descobrir, classificar, mostrar e defender as doutrinas das Escrituras, e os aspectos precisos da tipologia que estão ainda incertos basicamente por causa do fato que os teólogos têm dirigido sua atenção à outras coisas.

Mas quem se atreverá a avaliar a restrição imposta à própria vida e bênção do estudante de teologia e, através dele, e sobretudo a quem ele ministra, quando os tipos, que são grandes descrições que Deus dá da verdade, são apagados de cada curso de estudo designado para prepará-lo para um ministério frutífero e digno da Palavra de Deus?

Não é suficiente dar a esses temas um reconhecimento passageiro no estudo das evidências; o estudante deveria ficar impregnado dessas maravilhas da mensagem de Deus para que todo o seu ser seja iluminado com esplendor espiritual que nunca possa ser obscurecido

 

Autor: CS Lewis