A palavra portuguesa «sacramento» vem do latim "sacramentum", algo «santo», «sagrado», «consagrado».
Entretanto, a Vulgata Latina usou esta palavra para traduzir o termo grego mustérion, «mistério».
Ver no Novo Testamento Efésios. 1:9; 3:2 ss.; Colossenses. 1:26 ss.; I Tim. 3:16; Apo. 1:20; 17:7. Dentro dessa associação de ideias, um sacramento passa também a ser um santo mistério, uma verdade profunda e sagrada revelada pela divindade, embora continue contendo elementos ocultos ou difíceis de entender.
Tertuliano usou o termo para denotar fatos sagrados, sinais misteriosos e salutares, atos santos que servem de veículo. Num sentido tão amplo, até mesmo alguma doutrina das Escrituras pode ser chamada de sacramento.
Na opinião católica romana, um sacramento é algum rito instituído por Cristo ou pela Igreja, como sinal externo e visível de uma graça interna e espiritual. Na Igreja Ortodoxa Oriental, os sacramentos também são chamados mistérios. A tradição medieval fixou o número dos sacramentos em sete.
O protestantismo tipo sacramental reduziu os sacramentos a dois: o batismo e a Ceia do Senhor. O catecismo anglicano brinda-nos com a seguinte definição: «Um sinal externo e visível de uma graça interior e espiritual que nos é dada, ordenado pelo próprio Cristo para servir de meio pelo qual recebemos essa graça, e pelo que nos é feita uma segura promessa».
De acordo com a teologia católica romana, os sacramentos têm sua eficácia com base na vontade divina. Os sacramentos, de acordo com Roma, "operariam ex opere operato", e não por alguma operação mecânica, mas, antes, pela graça e pelo poder divino, sem importar quão indigno seja o ministrante que realiza o rito, e, em alguns casos, independentemente da fé pessoal dos recipientes, conforme é o caso dos infantes, ao serem batizados, no aguardo da regeneração e de uma fé que se espera manifestar-se futuramente.
Relações entre a Palavra e os Sacramentos
Se tivesse dado sempre prioridade às Escrituras, nem teriam surgido os sacramentos. A Palavra subsiste sem nenhum sacramento, mas os sacramentos não podem existir, em nenhum sentido significativo, sem a Palavra.
Melhor diríamos, não pode haver ordenanças sem a base da Palavra. Quando os evangélicos falam em «meios da graça», referem-se a exercícios espirituais, ao cultivo da piedade, não a cerimônias externas.
Para nós, os meios da graça são coisas como a leitura da Bíblia, a meditação, a oração, a frequência aos cultos, a piedade doméstica, as experiências místicas etc. Se alguns veem pontos de semelhança entre a Palavra e os sacramentos, preferimos ver os pontos de distinção entre a Palavra e as ordenanças. Podemos indicar quatro pontos de distinção:
1.Quanto à necessidade.
A Palavra é indispensável à salvação; as ordenanças são dispensáveis, e nem mesmo fazem parte do processo salvatício, Ilustração disso é o caso do ladrão penitente, na cruz, que morreu sem ter recebido nenhum rito, embora Jesus lhe tivesse garantido: «Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso» (Luc. 23:43). Uma ordenança é apenas um sinal visível da Palavra.
A fé é a única causa instrumental da salvação (ver João 5:24; 6:29; Atos 16:31 etc.).
2.Quanto à aplicação.
A Palavra deve ser pregada a todos; as ordenanças visam ser dadas somente aos que já fazem parte da família da fé. João Batista recusou batizar certos judeus impenitentes: «Raça de víboras, quem nos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, fruto digno do arrependimento...» (Mal. 3:7,8).
3.Quanto a seu objetivo.
A Palavra visa fazer brotar e fortalecer a fé; as ordenanças são meros memoriais dos feitos remi dores de Deus. «Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazer isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim» (I Cor. 11 :25).
4.Quanto à forma de expressão. A Palavra visa ser pregada; as ordenanças impressionam a imaginação mais através da vista. Por assim dizer, as ordenanças são uma Palavra visível. As ordenanças são «formas visíveis da graça invisível» quando certos cristãos passaram a crer que Deus manifesta a sua graça através de meios físicos (meios de graça», segundo o nome técnico), esses meios receberam o nome de sacramentos.
O conceito não se coaduna com o ensino bíblico, que fala das operações diretas da graça divina sobre a alma, independentemente de qualquer meio externo, do mérito humano e da intervenção humana, porquanto é operação direta do Espírito Santo com base exclusiva na obra remidora de Cristo.
Se o efeito da graça do Sábado cristão- é instantâneo e eficaz, o uso dos sacramentos redunda em uma monotonia repetitiva e eficaz que, no dizer da epístola aos Hebreus, é «impossível» que «remova pecados» (ver Heb. 10:3). Verdade é que o autor sagrado não se referia aos sacramentos modernos, e, sim, às ofertas simbólicas da legislação mosaica, mas a aplicação não é imprópria.
A ideia de sacramento acompanha o cristianismo de longa data. Sem dúvida, faz parte do judaísmo. O escritor da epístola aos Hebreus encontrou-a entrincheirada na mente de muitos de seus leitores.
Hamack indica que Tertuliano «já usava essa palavra a fim de denotar fatos sagrados, misteriosos, sinais salutares e veículos ou atos santos. Tudo quanto estivesse ligado à deidade e sua revelação e, portanto, até mesmo doutrinas, era chamado sacramento; e o termo também se aplicava ao que era simbólico, ao que era sempre algo misterioso e santo» (History of Dogma. IlI, págs. 138 e 139).
Com o tempo, o uso do termo foi sendo afunilado, passando a indicar apenas aquelas cerimônias, litúrgicas que, supostamente, são transmissoras da graça divina. Atualmente, a Igreja Católica Romana fala em sete sacramentos: batismo, confirmação, eucaristia, penitência, extrema-unção, ordens e matrimônio.
As igrejas evangélicas, em sua maioria, evitam o uso do termo «sacramentos», tanto por causa de suas conotações históricas, como por não concordarem com a ideia de a graça divina ser veiculada por meio de cerimônias.
Quase sempre os evangélicos preferem falar em ordenanças, definidas como símbolos externos da graça interna, limitando o seu número a dois: o batismo e a Ceia do Senhor . Destarte, fica eliminada a necessidade de criar uma liturgia em tomo de tudo quanto não simboliza diretamente a obra salvatícia de Cristo.
As ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor representam aspectos variados da operação interna do Espírito e da obra remidora de Cristo.
A eficácia da graça divina e a ineficácia dos sacramentos podem ser ilustradas como segue: Nasceu uma menina de pais católicas, que a levaram à pia batismal no tempo hábil; mocinha, ela fez sua primeira confissão, tomou a hóstia e foi crismada.
De fortes tendências religiosas, jovem não perdia a missa, nem se descuidava de se confessar e participar da comunhão frequentemente. Após alguns anos, tomou-se freira, tendo passado uma longa vida de religiosidade e serviço fiel à sua Igreja. Agora, jazia moribunda no convento.
Veio um padre e lhe deu a extrema-unção, último recurso litúrgico católico. Se, então, alguém perguntasse da velhinha se ela tinha a certeza da salvação, ela responderia com uma dúvida atroz no espírito: «Quem sabe, meu filho, quem sabe?».
Todos os supostos meios da graça, por ela recebidos, haviam sido em vão. A fé pessoal e a justificação pela fé são as operações eficazes por meio das quais o indivíduo é espiritualmente beneficiado.
A obra regeneradora é ali aceita como uma operação do Espírito, desvinculada de qualquer mérito pessoal do recipiente, e desvinculada de quaisquer ritos que este venha a realizar.
Não obstante, alguns evangélicos acreditam que os momentos do batismo e da Ceia do Senhor são especiais, quando a presença do Espírito se faz mais pronunciada, como se o crente pudesse desfrutar de uma comunhão mais intima com o Senhor nessas oportunidades.
Mas, mesmo nesses casos, não se pensa que as ordenanças sejam meios de salvação. Há tão-somente um aproveitamento espiritual quando a pessoa age por sua própria vontade e exercita a sua fé.
Entre os evangélicos, espera-se que tanto o batismo quanto a Ceia do Senhor sejam aplicados a pessoas regeneradas. Argumentos Contrários ao Sacramentalismo, com Base na Experiência.
Quantos milhões de pessoas são batizados na infância, em nosso Brasil, nunca demonstram sinal de conversão e regeneração? Quantas dessas mesmas pessoas continuam a tomar a santa comunhão, mas nem por isso dão alguma mostra de autêntica regeneração? Se supostamente os sacramentos são eficazes, porque não apresentam eficácia exterior na manifestação exterior dos frutos ??
Por: João Vitor
Data: 20/12/2016