Um dos argumentos mais utilizados pelos católicos é que foi o catolicismo nos deu a Bíblia e que através deles temos acesso as Escrituras.
Mas nesse artigo, irei fazer uma abordagem lógica sobre esse argumento que os católicos sempre usam para supor que a Bíblia é feita por católicos e para os católicos. Começarei a partir daquilo que a própria Bíblia diz sobre o assunto.
Vejamos: Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas.(Romanos 3:1,2)
Vemos justamente na carta aos Romanos que aos judeus foi dado, confiado as palavras de Deus (inspiração dos escritos), não só o Antigo Testamento, mas também o novo, pois, os apóstolos eram judeus no sentido de emanarem das doze tribos. Portanto em questão da inspiração do texto fica claro que os católicos, que são gentios, nada têm por direito nessa questão sendo que os romanos foram enxertados no lugar dos ramos que foram cortados, assim como todo o povo gentio que se converteria posteriormente.
Na questão da inspiração Divina Paulo assevera:
"Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;Para que nenhuma carne se glorie perante ele."(1 Coríntios 1:18-29)
Nesse texto Paulo está fazendo um contraste entre o conhecimento humano, no sentido filosófico e outras linhas de raciocínio com a inspiração Divina , por que, qualquer que seja o raciocínio humano não pode desvendar, pelo fato de ser loucura ao raciocínio humano.
Paulo termina esse texto de forma incisiva quando afirma:
"Para que nenhuma carne se glorie perante ele".
Note que a inspiração divina não é motivo para que o homem se glorie, pois qualquer raciocínio, força intelectual, linha filosófica ou idealismo cultural, não poderia produzir tal inspiração nem deduzir algo tão poderoso, pois, a sabedoria do mundo, Deus transformou em loucura, e o que o raciocínio humano teve ou tem por loucura, Deus usou para salvar a todo aquele que crer, e para os que creem o evangelho é o poder de Deus.
Portanto, não foi dos apóstolos que os católicos herdaram a tradição de orgulhar-se daquilo que não lhes pertence, afinal, isso, Paulo não ensina no texto acima.
Os católicos, na questão da inspiração, não possuem direito de determinar ou restringir o acesso as Escrituras, porque não lhes é dado tal direito, a inspiração não é proveniente de mente humana, costume humano e muito menos de uma instituição monopolizada como meio do acesso daquilo que não foi humanamente produzido.
A IGREJA CATÓLICA QUIS NOS DAR A BÍBLIA ?
Não! A igreja católica em sua história nunca quis que o povo tivesse acesso às Escrituras, e diante dos fatos eles sempre justificam que nossos argumentos não tem fundamento pelo fato da falta de alfabetização na igreja primitiva e na idade média em que relatos são documentados, proibindo qualquer tradução para o dialeto local.
Mas isso não é problema diante das verdades que Paulo ressalta no texto que citei acima, afinal "Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados".
Logo, para aplicar em sua vida alguma verdade Bíblica, para saber o seu dever, não necessitam de muito conhecimento e inteligência, porque a inteligência humana pouco serviria para compreender a revelação divina, pelo contrário, traria confusão se fosse conjecturado com raciocínio humano.
Irei expor alguns fatos aqui e discorrer sobre eles .
1) No ano de 1215, o papa Inocêncio III emitiu uma lei ordenando "que devem ser presos para interrogatório e julgamento, QUEM ESTIVER ENVOLVIDO NA TRADUÇÃO DOS VOLUMES SACROS, ou que mantém reuniões secretas, ou que pregue sem a autorização dos superiores; contra quem o processo deve ser iniciado sem qualquer permissão para apelo" (J.P. Callender, Illustrations of Popery, 1838, p. 387).
Veja que há um decreto nesta afirmação que não podia-se traduzir do Latim, idioma do qual estavam escritas as Bíblias dessa época para outro idioma. Também não queriam que as pessoas se reunissem fora da supervisão de um superior.
E por final, quem fosse pego desobedecendo a isto seria submetido a processo de inquisição, já que essa era a forma dos católicos aplicarem as suas penas as vítimas pelo "Santo ofício". Podemos fazer aqui uma análise de fatos juntando todos os componentes do decreto , e concluir que: a igreja católica não queria dar a Bíblia as pessoas, e muito menos autorizar a tradução para outro idioma com medo de possíveis questionamentos as doutrinas antibíblicas encontradas nas Escrituras, e com isso perder seu controle sobre o povo manipulado pelas suas doutrinas, e daí veio a necessidade de um supervisor que se mantinha informado de qualquer assunto referente a Escritura, para evitar a compreensão do conteúdo sagrado impondo à todos sujeição a supervisão de Roma para que de forma alguma a escritura fosse exposta ao povo. SERÁ QUE A IGREJA CATÓLICA NOS DEU A BÍBLIA
2) Inocêncio declarou "que como pela lei antiga, o animal que tocasse o monte santo era apedrejado até a morte, assim simples e iletrados homens não eram autorizados a tocar na Bíblia ou fazer qualquer ato de pregação de suas doutrinas". (Schaff, History of the Christian Church, VI, p. 723.
Nesse texto o Papa Inocêncio, o mesmo Papa que emitiu o decreto acima, usa um pretexto um tanto que infundado na infeliz comparação que faz. Porque ele compara pessoas a animais, sendo que a outra parte da lei que ele esqueceu de citar também ordenava que qualquer pessoa que também tocasse no monte fosse morta ou morreria.
Sua alegação não possui respaldo pois, aquelas pessoas estavam sob uma nova aliança e se ao menos pudessem e tivessem acesso às Escrituras diriam:
"Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; a universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel". (Hebreus 12:20-24).
Aqui também temos uma refutação ao argumento católico, quando eles dizem que o povo não sabia ler nessa época. Se o povo não soubessem ler haveria tanto receio ao acesso às Escrituras, sendo que para o analfabeto, um livro é inútil?
Os iletrados que Inocêncio cita nesse texto são os homens que não são "doutos" ou melhor, leigos sob o cabresto. Em assunto de religião, os romanos sempre se consideraram doutos, mas como eu já mostrei, isso sempre foi arrogância, porque os apóstolos nunca ensinaram isso.
Que o diga o Apóstolo Paulo: "Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; para que nenhuma carne se glorie perante ele."
ENTÃO, QUEM NOS DEU ACESSO ÀS ESCRITURAS SE NÃO FORAM OS CATÓLICOS?
Formulei a questão diferente da afirmação católica que diz que foi ela que nos deu a Bíblia, trocando as palavras deu a Bíblia pelas palavras deu acesso, porque quem nos deu a Bíblia foi Deus tendo em vista que não consideramos o livro, mas sim, seu conteúdo.
Quem nos proporcionou acesso às Escrituras foi John Wycliffe (1324-1384), o pai da Bíblia em inglês que disse: Você diz que é uma heresia falar das Sagradas Escrituras em inglês. Você me chama de herege, porque eu traduzi a Bíblia para a língua comum do povo. Você sabe quem blasfema? Não dá o Espírito Santo a Palavra de Deus em primeiro lugar na língua materna das nações a quem foi dirigida? Por que você fala contra o Espírito Santo? Você diz que a Igreja de Deus está em perigo com este livro. Como pode ser isso? Não é somente da Bíblia que aprendemos que Deus criou uma sociedade tal como Igreja sobre a terra? Não é a Bíblia que dá toda a sua autoridade à Igreja? Não é da Bíblia que aprendemos quem é o Construtor e Soberano da Igreja, quais são as leis pelas quais ela é governada, e os direitos e privilégios dos seus membros? Sem a Bíblia, que permissão tem a Igreja para mostrar tais coisas a todos esses? É você quem coloca a Igreja em perigo ao esconder o mandado Divino, a missiva real de seu Rei, a autoridade que ela exerce e a fé que ela ordena" (David Fountain, John Wycliffe, pp. 45-47).
Quem nos deu acesso às Escrituras foi Lutero que teve sua tradução perseguida por Roma que dizia:
"Padres ignorantes estremeceram com o pensamento de que cada cidadão, ou melhor, que cada camponês, agora seria capaz de disputar com eles sobre os preceitos de nosso Senhor. O rei da Inglaterra denunciou as ações do príncipe Frederico e George, Duque da Saxônia. Mas, logo no mês de Novembro, o Duque ordenou aos seus súditos depositar todas as cópias do Novo Testamento de Lutero nas mãos dos magistrados. Baviera, Brandenburgo, Áustria, e todos os estados devotados a Roma publicaram decretos semelhantes. Em alguns lugares eles fizeram um terrível sacrilégio: fogueiras desses livros sagrados nas praças públicas"(D’Aubigne, III, p. 77).
Em 1520 uma busca rigorosa por Bíblias Luteranas e livros teve início em Veneza, e aqueles encontrados foram destruídos (M'Crie, Reformation in Italy, p. 28).
Quem nos deu acesso á Bíblia foram Ludwig Hetzer e Hans Denck, talentosos eruditos, bem versados em hebraico e grego, bem como em latim.
Denck estudou e recebeu o grau de mestre na Universidade de Basel, sob e com Erasmus. Hetzer foi um aluno de Basel, e também da Universidade de Paris" (John Porter, The World’s Debt to the Baptists, 1914, p. 138).
Na época da sua publicação a aprovação da edição Denck-Hetzer foi ilimitada e universal. No prazo de três anos treze edições separadas apareceram em Estrasburgo, Augsburgo, Hagenau, e outros lugares (...)
Em uma palavra, em toda a Alemanha, o livro dos desprezados anabatistas foi comprado, lido, e estimado" (Ludwig Keller, Hans Denck, Ein Apostel der Wiedertaufer, p. 211; cited by Porter, p. 139).
Foram esses e tantos outros como Francisco de Enzinas, Juan Perez de Pineda (1490-1567). Cassiodoro de Reina (1520-1594) etc.
Esses homens colocaram suas vidas em risco, foram presos, difamados, perseguidos, para nos dar acesso as Escrituras hoje , e portanto, concluo dizendo, NÃO FORAM OS CATÓLICOS QUE NOS DERAM A BÍBLIA .
Por: João Vitor
Data: 08/12/2016